A federação entre PP (Progressistas) e União Brasil, lançada ontem, dará origem à maior força política do país, batizada de União Progressista (UP). Com isso, a direita estará concentrada nas duas maiores siglas nacionais: o novo UP e o PL, de Jair Bolsonaro.
Por se tratar de uma federação, os dois partidos continuarão existindo formalmente, mas com a obrigação de atuar em conjunto no Congresso e nas disputas eleitorais.
Contará com 109 deputados federais (outros dois estão licenciados), 14 senadores, quatro ministérios (Comunicações, Desenvolvimento Regional, Turismo e Esporte), a presidência da Caixa e um orçamento de quase R$ 1 bilhão (R$ 951 milhões), provenientes dos fundos partidário e eleitoral — a maior verba entre todas as siglas para as próximas eleições.
Com 123 parlamentares no Legislativo Federal, a UP se tornará peça-chave nas votações.
Na Câmara, por exemplo, será impossível para o governo aprovar pautas relevantes sem negociar com a nova superfederação. O PL, até então com a maior bancada, tem 93 deputados; a federação PT-PCdoB-PV, tem 80 deputados.
"O UP reunirá lideranças expressivas, terá recursos e grande capacidade de articulação no Congresso. Será decisivo na eleição presidencial de 2026. É o Arenão", avalia Antonio Augusto de Queiroz, analista político e mestre em políticas públicas e governo pela FGV.
Segundo ele, a federação pode ser entendida como uma tentativa de fortalecer a direita moderada e reduzir o espaço da ala mais radical, hoje concentrada no PL.
O cientista político Jairo Nicolau, especialista em sistemas eleitorais, afirma que há quase 30 anos o Brasil não vê uma bancada com mais de cem deputados.
A última vez foi o PFL, em 1994. Isso impacta diretamente a sucessão presidencial, pois um partido com essa força provavelmente lançará candidato próprio ou negociará posições de destaque.
Jairo Nicolau
Ele avalia a federação como resultado de um cálculo político voltado à concentração de poder: "Esse processo visa tornar os partidos mais competitivos e financeiramente robustos. Curiosamente, essa compactação está ocorrendo no campo da direita. Já houve pequenas fusões e outras devem vir. Hoje, temos dois grandes partidos de direita: UP e PL. O PSD ocupa uma posição mais centrista".
Nicolau acrescenta: "É impressionante. Resta saber se algo semelhante ocorrerá na esquerda".
O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), classificou a nova federação como "a bússola política do país" — que surge porém marcada por tensões internas e posições divergentes.
De um lado está, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que defende o rompimento do grupo com o governo Lula; de outro, o senador Davi Alcolumbre (Uniãol) se fortalece como um dos principais aliados e articuladores do petista. Uma ala também flerta com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O comando da federação será inicialmente assumido, em gestão conjunta, pelos presidentes do União Brasil, Antonio Rueda, e do PP, Ciro Nogueira (PI). O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) pleiteava a vaga, mas Rueda não abriu mão de assumir a função.
Já existe no Brasil um partido chamado UP. Sem representação no Congresso, o Unidade Popular se apresenta como uma sigla de extrema esquerda e foi registrado em 2019. "Vamos em frente", respondeu Ciro Nogueira sobre se seguirão com o mesmo nome.
Petistas defendem diálogo com direita
Lideranças do PT têm defendido a aproximação com setores da direita moderada como estratégia para isolar a extrema direita em 2026. A articulação busca enfraquecer o PL e outros grupos mais à direita.
Nesse contexto, o governador petista Rafael Fonteles, do Piauí, já afirmou: "Temos que dialogar com a centro-esquerda e compor com a centro-direita. Essa frente ampla é extremamente importante para representar a maioria da população".
Estrutura robusta
Atualmente, PP e União Brasil somam 6 governadores —4 no Norte (Acre, Roraima, Amazonas e Rondônia) e 2 no Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso), regiões tradicionalmente alinhadas ao centro e à centro-direita.
Governará sete capitais: Belo Horizonte, Salvador, Goiânia, Natal, João Pessoa, Campo Grande e Teresina. Minas Gerais e Bahia, por exemplo, figuram entre os maiores colégios eleitorais do país. Com isso, o PSD perde o posto de partido com mais prefeituras de capitais —elegeu 5 em 2024. Já o PT administra apenas Fortaleza.
Ao todo, o União Progressista reunirá 1.350 prefeitos, 1.200 vice-prefeitos e 12.450 vereadores em todo o país. No Senado, a sigla empatará com o PL como a segunda maior bancada, com 14 senadores, superando o PT, que tem 9. Entre os nomes de destaque da nova federação está o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (AP), atualmente no União Brasil.
Por que uma federação?
Para Jairo Nicolau, a criação do fundão eleitoral —recurso público destinado ao financiamento das campanhas— explica parte da estratégia. A estimativa é que, em 2026, o fundo atinja R$ 7 bilhões.
"Compensa concentrar mandatos e bancadas nos estados, pois isso garante mais recursos e evita entregá-los a adversários locais", afirma .
O fim das coligações também impulsionou esse movimento. Antes, partidos podiam se unir apenas durante as eleições para somar votos. Agora, essa união só é permitida por meio de federações ou fusões.
"Ficar num partido pequeno ou médio partido virou um péssimo negócio. Se antes havia vantagens, em razão das coligações e outros incentivos, agora não mais. Por isso, vejo esse processo como um movimento de compactação do sistema político, tornando os partidos mais poderosos, mais competitivos nas eleições para o Congresso, com mais dinheiro na mão", diz Nicolau.
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