'Corrida do milhão': a disputa para vender apartamentos de luxo no ‘prédio mais alto do mundo’ em Balneário Camboriú - BS NOTÍCIAS

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quinta-feira, 12 de junho de 2025

'Corrida do milhão': a disputa para vender apartamentos de luxo no ‘prédio mais alto do mundo’ em Balneário Camboriú


 

Vender uma unidade do Senna Tower, pensada pela família de Ayrton Senna, requer investir em viagens de helicóptero e luxo para de corretores ávidos pela comissão mínima de R$ 2 milhões.


Seja bem-vindo ao Senna Tower: uma torre com 550 metros de altura à beira da praia em Balneário Camboriú. As unidades vão ter piscinas privativas, museu em homenagem a Ayrton Senna e pode se despreocupar com vaga de garagem. Alguns apartamentos terão elevadores exclusivos para estacionar o carro na sala. Além de no mínimo R$ 30 milhões, para ter um desses é preciso da confiança de um profissional importante: o corretor de alto padrão.

Você pode encontrá-los em festas restritas, rodas de networking, a bordo de lanchas e carrões. A agenda deles ficou ainda mais intensa com o anúncio do Senna Tower, em maio.

A torre será o prédio residencial mais alto do mundo, mas os corretores têm dificuldade em vendê-la. As chaves só serão entregues em cerca de uma década. Os clientes também não se impressionam facilmente - muitos deles voam em jatinhos particulares apenas para uma visita ao decorado.

O corretor que fechar negócio da unidade mais barata, avaliada em R$ 30 milhões, recebe um valor em corretagem de R$ 2 milhões. A FG, incorporadora responsável pelo empreendimento, afirma que atua com corretores próprios, mas também fatiou as vendas entre imobiliárias no Brasil e no exterior, em países estratégicos, como Estados Unidos e Japão.

A divisão é um estímulo à venda: vende aquele com a melhor abordagem, em uma disputa amigável, mas travada na habilidade em vendas.

E com um adicional. O dinheiro alto conquistado pelos valores de corretagem volta para ser investido na vida de alto luxo dos próprios corretores, que, evidentemente, devem dominar mais de um idioma para aumentar as chances nessa espécie de Torre de Babel imobiliária. Em alguns casos, eles contam até com uma equipe própria de comunicação para ampliar a popularidade.


Uma das estratégias é o próprio Senna. O nome não é uma coincidência. A ideia da “megatorre” é um conceito de Lalalli Senna, sobrinha do piloto. A família cedeu equipamentos e acessórios do Senna para exibição no decorado.

O primeiro comprador ganhou, inclusive, um exemplar da obra Punta Taco, escultura em madeira de reflorestamento -- o objeto remete à técnica que os pilotos usam em provas, controlando simultaneamente frenagem e aceleração, e conta com a assinatura clássica de Senna.

A visita ao decorado é exclusiva e agendada. No local, as peças em memória de Senna ficam próximas a uma maquete com quatro metros de altura. O interessado também é convidado a dar voltas em helicópteros para ver o terreno do futuro empreendimento. Tudo para sensibilizar quem está disposto ao investimento milionário na torre.

“Nós não vendemos somente números. Você tem que se aprofundar no estilo de vida, na história, no emocional. É uma preparação que fazemos para ajudar a contar a história do próprio cliente”, explica o corretor Jeferson Tilchlher, sócio-proprietário da imobiliária Felicità Imóveis. Ele afirma já ter fechado negócio com clientes de longa data.

“Nosso primeiro cliente que comprou o Senna Tower sentou na mesa, viu a apresentação, chorou e lembrou da época que assistia à Fórmula com o pai e avô”, acrescenta. Para chegar até esse ponto e criar uma "carteira" de potenciais compradores, os corretores de Balneário Camboriú levam anos no relacionamento com clientes.


Antes mesmo da visita, empresas analisam se todo o investimento - visitas guiadas, roteiro de restaurantes, passeios de lancha e helicóptero - vale a pena. Apenas clientes com renda suficiente dão o primeiro passo para negociar. Em geral, são do mercado financeiro, do agronegócio no Centro-Oeste ou da mineração. A incorporadora não revela números, mas as imobiliárias calculam que cerca de 25% das 228 unidades foram vendidas.

Em um caso, um comprador japonês, fã de Senna, se interessou por unidades no oitavo andar. O motivo? Numerologia. É o andar da sorte. Em outro, a futura pista de kart elétrico ao redor do prédio foi uma das grandes atrações. Os corretores com vendas fechadas no Senna foram convidados, juntos ao cliente, a um coquetel exclusivo para, assim, manter a carteira de networking circulando na cidade que escolheu crescer - e muito - em direção ao céu.

Muito espaço para o dinheiro. Pouco espaço para construção

Não à toa, o espaço é um desafio para a “Dubai brasileira”. Balneário Camboriú se tornou município em 1964. Até então, as dez praias serviam como uma colônia de lazer dos moradores de Blumenau. Entre os anos 90 e os 2000, os arranha-céus foram erguidos e se tornaram um atrativo turístico por si só, mas também um chamariz para negócios.

A verticalização foi a saída. Por isso, a metragem do Senna Tower é consideravelmente pequena em relação aos valores - as maiores, terão cerca de 500 metros privativos. O que torna o trabalho do corretor VIP ainda mais complexo para atrair vendas, em especial nos endereços mais próximos às dez praias que banham a cidade vertical.

Em 2023, a prefeitura estendeu a faixa de areia devido às sombras lançadas pelos arranhas-céus sobre a praia. A medida foi criticada por organizações sociais devido ao impacto ambiental. Em nota, a FG afirma que o Senna Tower cumpre “integralmente todas as normas ambientais e urbanísticas”, além de projetada em um ponto com “menor incidência de sombras dos edifícios, devido à orientação geográfica” realizada a partir de simulações feitas à prefeitura.

Se na areia talvez seja complexo apreciar o sol, do alto do Senna Tower isso não será um problema. Uma das áreas será aberta a visitas agendadas do público para contemplar uma vista panorâmica e as relíquias de Ayrton Senna.

Último andar terá vista panorâmica

O mais cobiçado serão os últimos andares, avaliados em R$ 300 milhões. Segundo a FB, os corretores poderão ficar despreocupados neste caso: as unidades serão parte de um leilão internacional e devem ficar nas mãos de grandes empresas. Enquanto isso, as centenas de corretores deverão empenhar-se no aperto de mão dos demais apartamentos.

A corrida será estendida também no nível mundial. Elaborada para superar o Central Park Tower, com mais de 470 metros de altura em Nova York, o Senna Tower já é desafiado por um empreendimento em Dubai, nos Emirados Árabes, de quase 560 metros de altura ainda em construção.

“Como ter a confiança, a consideração e admiração e amizade de uma pessoa bilionária ou multimilionária?”, diz o corretor Bruno Cassola, cuja carteira de clientes já demonstrou interesse em obter um pedaço milionário do Senna Tower. “É um desafio, a concorrência é muito desafiadora, mas também muito boa para o nosso mercado”, diz.

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