O novo papa herdará uma igreja endividada, com queda de recursos e sem saber como pagar pela aposentadoria de milhares de religiosos pelo mundo.
Com um conclave marcado para o dia 7 de maio, cardeais de 71 países iniciaram nesta semana consultas para determinar o futuro da Santa Sé. Segundo fontes que estão acompanhando as reuniões, as reformas iniciadas por Francisco estão entre os principais pontos de debate.
A ala conservadora e que tenta promover uma ruptura da administração do argentino iniciou uma operação de articulação. Seu lema: acabar com a suposta "ambiguidade" de Francisco na doutrina e apresentar uma Igreja "segura".
Ainda que Francisco tenha nomeado 108 dos 135 cardeais, a aposta dos conversadores é de que muitos não se conhecem e nem todos adotam uma mesma postura em relação às propostas do argentino.
Um recado no sentido contrário foi dado pelo cardeal italiano Baldassare Reina, que, numa homilia nesta segunda-feira, insistiu na necessidade de preservar e continuar com as reformas de Francisco.
"Este não pode ser o momento de equilíbrios, táticas, prudência, o momento de ceder ao instinto de voltar atrás, ou pior, a rivalidades e alianças de poder, mas o que é necessário é uma disposição radical para entrar no sonho de Deus confiado às nossas pobres mãos", disse.
Seu recado foi interpretado como um apelo para que a ala progressista supere eventuais divisões e apresente uma postura unificada no conclave.
Nos encontros, fontes em Roma confirmam que tanto progressistas como conservadores concordam que muitos dos projetos do argentino, enterrado no fim de semana, ficaram incompletos diante de impasses dentro da Cúria e resistências contra projetos que previam cortes profundos nos gastos do Vaticano.
Apesar das tentativas do papa de tornar as contas da Santa Sé mais transparentes, o último orçamento completo foi publicado apenas em 2022. Dados que circulam entre os cardeais e bispos que estão em Roma, porém, apontam que a Igreja terminou 2024 com um déficit de US$ 87 milhões.
O buraco nas contas não seria novo. Mas o que preocupa é que o déficit vem crescendo de forma exponencial nos últimos anos. Em 2022, ele era de cerca de US$ 35 milhões.
Outro problema é a incapacidade de encontrar uma nova fórmula para financiar o seu fundo de pensão. Há dois anos, o déficit era de 631 milhões de euros. Francisco chegou a sugerir que fontes externas pudessem ser usadas. Mas foi alertado sobre o risco de conflitos de interesse com instituições privadas.
As doações estão estáveis, com uma média de 45 milhões de euros na última década. Mas são insuficientes para lidar com os gastos do Vaticano.
A pandemia da covid-19 também deixou a instituição enfraquecida, já que o Vaticano sofreu uma perda substancial de receita turística ao ter de fechar seus museus. Se não bastasse, o governo de Donald Trump anunciou cortes profundos em instituições católicas pelo mundo, obrigado a Santa Sé a ter de sair ao socorro de algumas dessas entidades.
Sem poder emitir títulos de dívida ou cobrar impostos, um dos poucos instrumentos que o Vaticano conta é seu portfólio de investimentos, que inclui 5.000 propriedades. Em 2024, esses investimentos resultaram em lucros de 45,9 milhões de euros.
Ciente da crise e da resistência por parte da Cúria, Francisco promoveu diversos cortes de salários dos cardeais, ampliando os ataques contra sua gestão por parte daqueles que perderam privilégios.
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