Estou convencido de que o baiano não é preguiçoso. Essa história é pura
maldade, inveja e o pior: racismo, preconceito, discriminação. O baiano é
trabalhador!
Dorival Caymmi tem parte da culpa na falsa ideia de que o baiano é
preguiçoso. Inteligente que era, atributo comum aos filhos da Bahia como a
cultura brasileira comprova, o compositor e cantor chegou ao Rio de Janeiro no
final dos anos 1920 e enfrentou o preconceito enraizado contra pretos e
indígenas. Afinal, os explorados pelos colonizadores demonstravam nos rostos
e corpos sofridos a resistência ao tratamento desumano que recebiam.
Caymmi fez do limão a limonada e tirou proveito da suposta “preguiça do
baiano”. Nas suas letras tornou-a inspirada poesia, e cresceu em cima dos que
atacavam os baianos mostrando que não era indolente, e sim oriundo de uma
terra na qual tudo é divino, maravilhoso.
Ruben Braga, um dos maiores cronistas deste País, dizia que o baiano atuava
em três tempos: “Devagar, muito devagar e Dorival Caymmi”. A rigor, a piada
deixava claro que a tranquilidade era indispensável à criação, nada de pressa
que é inimiga da perfeição. Dizem que “João Valentão”, um dos maiores
sucessos de Caymmi, demorou nove anos para ser lançada; que “Saudade da
Bahia”, então, levou 12 anos. Mas, ficaram tão boas! Tanto quanto
“Maricotinha”, mais uma astuta demonstração de baianidade. Observem: “...se
fizer bom tempo amanhã, eu vou. Mas se por acaso chover, não vou. Uma
chuvinha, redinha, aí, piorou: não vou, nem tô”.
Diante do calor, da proximidade do mar, dos minérios da terra e outros fatores
de todos os tipos, incluindo os religiosos e esotéricos, tudo leva a crer que a
aparente lentidão é um reflexo científico e extrassensorial, não defeito de
caráter. Até porque o próprio Caymmi fez questão de mostrar que baiano é
trabalhador. Em “Canção da Partida” está claro: “Minha jangada vai sair pro
mar... Vou trabalhar…”. Já em “Sábado em Copacabana”, outro grande hit de
Caymmi, está implícito que depois de trabalhar é merecido descansar.
Passei uma semana na Bahia, na Praia do Forte. Dormi bem, sonhei muito e
lembrei dos sonhos (todos bons), comi e bebi como um rei, li um livro,
conversei, ouvi música, senti a brisa do mar no balanço da rede sob um
coqueiro, refleti bastante e até reencontrei Carlinhos Brown (que eu não via faz
tempo). Enfim.
Estou determinado a me tornar um baiano e ser mais feliz. Disse isso ao meu
querido amigo Sergio Amado, soteropolitano e um dos grandes nomes da
história da publicidade, no que ele – sem preguiça – de pronto me respondeu:
“Você já é baiano. Está feito.”
Aliás, deveria haver um incentivo do INSS para, quando da aposentadoria,
qualquer um pudesse se tornar baiano para a eternidade. Com certeza
diminuiria a quantidade de problemas de saúde a serem atendidos pelo
sistema público de saúde.
Descobri que o grande lance da felicidade é ser
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